Série "Crônicas de Nova York."


Bem galera, vou começar a publicar aqui uma série de CONTOS escritos pelo André Cruz, referência no RPG Capixaba, baseados nos quase 15 anos de campanha de Witchcraft denominada CRÔNICAS DE NOVA YORK. No mínimo fantástico, principalmente pelo fato de durar tanto tempo e de se construir uma história dentro de um grupo de jogadores.


A primeira parte se chama: BEM VINDO AO CLUBE.


Connor olhou para o relógio pela 5ª vez em menos de 10 minutos. Paciência nunca havia sido seu forte. Principalmente quando ele não está no controle da situação, como estava ocorrendo naquele momento. Connor achava toda a operação preocupante. Para ele tinha tudo para dar errado, principalmente porque ele achava arriscado colocar um provável membro da Irmandade em perigo sem necessidade. Ele olhou para o lado e viu um rapaz próximo aos 20 anos sentado no seu carro. “Meu Deus.”, pensou ele,”São cada vez mais novos.” E se lembrou quando ele mesmo entrou para a Irmandade sob o comando de Rosi Buriwell. Ele tinha cerca de 28 anos na época e mesmo assim se achava novo. Agora sua equipe era ele, o jovem ao seu lado, e mais dois que estavam do outro lado da rua em outro carro. Todos Marchers, apenas esperando pelas ordens para agirem.

A rua era uma rua de subúrbio comum, com casas de um lado e do outro, cheia de árvores ao longo dela toda, o que dava um ar sombrio naquela noite sem lua, fazendo com que as sombras projetadas pelos postes de luz nas calçadas parecessem mais ameaçadoras.

De repente o silêncio foi quebrado. Uma mensagem de rádio chegou até o carro. – Senhor, acho que nosso alvo se aproxima. Disse a voz saindo do aparelho.
Connor olhou para a rua e pode ver um rapaz tão jovem quanto o que estava ao seu lado andando pela rua despreocupadamente. Usava uma jaqueta com capuz e vinha com as mãos no bolso. Connor olhou novamente para o relógio e viu que já era meia-noite. "A hora da bruxa”, pensou. Em seguida pegou o rádio e enviou uma mensagem: - Vamos esperar. Não quero ninguém agindo antes do tempo. Vamos dar oportunidade para ele nos mostrar o que sabe.

O rapaz passou pelo carro estacionado do outro lado da rua, sem se preocupar com seus ocupantes, e continuou andando pela calçada de maneira normal. Geralmente as pessoas têm medo de sair à noite, devido à onda de violência e o número de desaparecimentos na área de NY, mas aquele rapaz andava tranqüilo, com passos normais. Como se não temesse a noite.
Uma jovem apareceu também na rua. Ela caminhava na mesma calçada do rapaz, mas em sentido contrário, e diferentemente dele ela parecia preocupada por estar tão tarde da noite na rua. Seus passos eram mais rápidos e seu andar deixava transparecer um certo nervosismo. Ela percebeu o rapaz vindo em sua direção e foi mais para o canto da calçada, quase se encolhendo. O rapaz passou por ela e fez um cumprimento com a cabeça. A jovem ajeitou o cabelo por trás da orelha e não respondeu.
Quando percebeu que o rapaz apenas passou por ela, sem fazer nenhuma gracinha ou coisa do tipo, a jovem parou e o chamou: - Ei. Boa noite. Você pode me ajudar?
O rapaz parou, olhou para trás e deu um sorriso. – Ajudar? Claro. O que eu posso fazer por você? Nesse momento eles estavam cerca de 30 metros de distância dos carros. Connor mandou um aviso: - Atenção. Fiquem a postos. Quando a coisa toda acontecer vai ser rápido. 

Connor então pegou uma pedra de cristal no porta luvas e engatilhou sua arma. O rapaz ao lado estava nesse momento concentrado, recitando palavras incompreensíveis para uma pessoa leiga, mas que tinham muita força.
Enquanto isso na rua o rapaz se aproximou da moça com o semblante mais amigável do mundo. Ela era uma graça. Parecia ter cerca de 20 anos, magra, cabelos loiros escorridos por sobre o ombro e uma boca linda e carnuda. Era realmente perigoso uma garota andar assim uma hora dessas na rua sem companhia. A moça sorriu e disse: - Eu estou perdida. Vim a uma festa com uns amigos e eles resolveram ir embora sem me levar de volta com eles e não sei como chegar em casa.
O rapaz então disse: - Bom se você quiser eu posso te levar até o ponto de ônibus mais próximo e esperá-lo com você. Claro que vou cobrar por isso.
A jovem fez uma expressão franzindo a testa como se não entendendo o que o rapaz disse, e perguntou: - O quê? Como assim?
- Bom, vou querer saber seu nome e pedir seu telefone, porque vou te ligar no fim de semana para te convidar para um programa melhor do que este que teus amigos te levaram hoje. Disse com uma cara de safado.

A jovem sorriu, ajeitou o cabelo mais uma vez e disse: - Ah, só isso? Tudo bem, mas vou cobrar também. O rapaz então perguntou, já imaginando uma resposta sacana por parte da moça: - É? E o que você vai querer em troca?
Nesse momento o rosto da moça se transformou. Seus olhos viraram duas bolas brancas. Sua boca se abriu de maneira inimaginável, mostrando duas séries de dentes em cima e embaixo, todos pontudos, como dentes de tubarão. Seus braços se estenderam e suas mãos se tornaram um par de garras afiadas. – Seu coração! Disse à jovem que agora parecia mais uma criatura saída das histórias de terror de Clive Baker do que a moça que alguns segundos atrás atraíra a atenção do rapaz.
Ela avançou em sua direção procurando segurá-lo. O rapaz, pego de surpresa, se jogou para trás caindo na calçada, petrificado de medo. Ela enfiou suas garras em sua coxa e ele gritou de dor. Procurando sobreviver aquele ataque repentino ele acerta um chute com a outra perna no joelho da criatura, fazendo-a perder o equilíbrio e cair de joelhos na calçada. Ele então mandou outro golpe, desta vez na cabeça da criatura, fazendo-a tirar suas garras de sua coxa e cair no chão da calçada. O jovem ficou em pé e pensou em correr, mas a dor na perna era demais para ele e conseguiu apenas dar um passo e cair de novo no chão. Ele olhou para trás e a criatura já estava em pé atrás dele pronta para lhe acertar um golpe, com as garras levantadas. Ele fechou os olhos e esperou pelo pior quando ouviu os tiros. seis disparos que acertaram a criatura em cheio, jogando-a na rua. Ele então olhou e viu três homens andando pelo meio da rua com armas em punho, vestidos de paletós e gravatas como empresários que acabavam de ter saído de sua happy hour, apontando na direção da criatura, que agora parecia surpresa com tudo. 

Com um movimento rápido a criatura ficou em pé outra vez encarando seus atacantes. O homem que estava logo a frente era o mais velho e provavelmente o mais fácil de ser atacado. Ela foi na direção de Connor e desferiu um golpe certeiro no abdômen, apenas para perceber que ele estava com um escudo de proteção mágica. Seu golpe resvalou nele e nada fez. Connor então disse: - Ok, agora é minha vez. E desferiu um golpe de arte marcial com o pé no peito da criatura que a jogou no chão. Antes dela se levantar ele já estava em cima dela disparando com sua arma. Os homens atrás dele fizeram o mesmo. Depois de todos descarregarem suas armas ele olhou para trás e viu o rapaz que estava no carro andando na direção deles. Ele terminou a invocação que vinha recitando a vários minutos e baniu a criatura, enfraquecida pelos disparos, desse plano dimensional, aproveitando não somente o fato de ter tido bastante tempo para recolher essência, mas também usando do ambiente, já que era um pouco depois da meia-noite.
O corpo da criatura se desfez e deixou apenas uma marca ácida no chão. Provavelmente a criatura usava aquele corpo há muito tempo, e agora sem hospedeiro, ele simplesmente se desmanchava.
Connor se virou para o rapaz ferido, que agora já estava de pé, e foi em sua direção. O rapaz estava com uma cara assustada, perna sangrando, e começou a apontar para onde estava o corpo da garota e perguntou: - Mas que merda era aquela? Quem são vocês? Que porra é essa? 
Connor então disse: - Isso era um fiend, uma criatura saída do inferno e que pode andar pelo nosso plano material habitando o corpo de pessoas que permitem esse tipo de incorporação. Eles são perigosos e essa estava na nossa agenda algum tempo. Essa era a área de caça dela. Por isso quando soubemos que você precisava de um novo local para morar fizemos você vir para este bairro e providenciamos um “encontro” entre vocês. 


Para o rapaz nada daquilo fazia sentido. Ele olhou melhor para Connor e disse: - Espere. Eu te conheço. Você estava naquele dia na biblioteca da faculdade quando meu pai me levou para apresentar umas pessoas. Meu pai me disse que eu ia entrar para uma fraternidade, ou coisa do tipo, e você disse que me visitaria qualquer dia desses.

Connor pegou o telefone e começou a discar. O rapaz olhou para ele sem entender e perguntou: - Prá quem você está ligando? Para polícia? Porra cara, eles não vão acreditar na gente. Connor então disse: - Não. Estou ligando para seu pai e dizer que você passou no teste. Ficou cara a cara com o sobrenatural e não enlouqueceu nem surtou.
- Isso era um teste? Teste para o quê? Perguntou o ainda assustado rapaz.
- Para entrar para a elite garoto. Você agora faz parte da Irmandade Rosacruz. Bem vindo ao clube.

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