O Contrato Social Implícito em uma Mesa de RPG - por Caio Tomé


Esse post se destina a jogadores com maturidade e experiência de jogo.

Venho escrever esse texto com base no passado recente de minha mesa, há cerca de 1 ano conheci um amigo no trabalho que jogava RPG e convidei ele para participar do meu grupo que já jogava há quase 10 anos junto. Ao entrar na mesa ele ganhou afinidade com os outros participantes do grupo e após certo tempo de jogo começou a levantar uma série de objeções sobre a forma como jogávamos e que ele achava que podiam melhorar, as "melhorias" dele acabaram resultando num clima ruim dentro da mesa. O que me fez parar pra pensar no o que é certo e errado dentro de uma mesa rpg.

Algumas das objeções que ele levantou por exemplo foram o fato de usarmos edições diferentes do mesmo sistema. Ele mostrou que a mistura de regras acabavam ficando confusas e algumas vezes sem sentido. Em outro ponto ele percebeu que fazíamos muito metagame e que isso atrapalhava na hora do jogo. Entendemos as propostas dele e acatamos as sugestões.

Passamos a usar uma única versão do sistema, começamos a evitar o meta e mudamos vários outros pontos que ele indicou que poderíamos melhorar. 

Resultado: 

As sessões perderam toda a identidade que levamos anos para montar e junto disso perdemos todos os atrativos que eu gostava.

Ao me afastar da minha antiga mesa comecei a jogar com um grupo novo e para meu espanto, o novo grupo (formado por jogadores experientes) também jogava de forma muito similar ao que nós jogávamos. E partir daí veio a compreensão.

Acredito que meu amigo tenha feito as críticas na melhor das intenções, pois ele se sentia incomodado com a forma como nós jogávamos e só tentou ajudar. Mas o que ele não percebeu era que dentro daquela mesa as coisas já funcionavam daquela maneira e isso não era melhor nem pior, era apenas diferente, se todos se divertiam jogando daquela maneira então ninguém estava errado, no final das contas todos nós estávamos jogando da maneira certa pra nos divertir.

A conclusão que pude chegar foi a seguinte, ao entrar em uma mesa nova e perceber que algo não condiz com sua forma de jogar, você deve, antes de sugerir mudanças, tentar entender como a mesa funciona por debaixo dos panos. Existem regras delicadas de conduta implícitas nas atitudes de cada jogador ali, eu chamo isso de contrato social, esse contrato pode ser facilmente quebrado caso alguém comece a desrespeitá-lo, essas condutas foram traçadas conforme esse grupo foi jogando ao longo do tempo e são a base atual para diversão deles, todo grupo tem pontos fracos e durante o passar dos anos esses pontos fracos vão sendo amenizados , superados ou esquecidos. Apontar e tentar resolver esses problemas pode causar muita confusão. 

Ao propor sugestões pense no impacto que elas podem causar a médio e longo prazo. Converse com o grupo sobre suas sugestões de forma aberta, caso a mudança seja realmente válida faça de modo gradual de forma que vocês possam voltar a jogar da forma que jogavam antes, caso a mudança não seja bem aceita. Caso você não consiga impor suas sugestões lhe resta apenas se adaptar a forma como o grupo joga ou encontrar um novo grupo que esteja dentro dos seus termos.

Galera ficam aqui minhas dicas, caso alguém discorde ou tenha passado por algo semelhante só comentar.

3 comentários: (+add yours?)

Kimble disse...

Essa questão do contrato social do grupo é algo que acho muito importante. Não somente para mudanças em jogos que já ocorrem, mas para o início de novas campanhas ou mesmo a formação de um grupo novo. Infelizmente o costume de sentar e conversar sobre expectativas e desejos dentro do grupo ainda é algo incomum e a maioria das pessoas acredita que basta se sentar na mesa e tudo vai dar certo. Com certeza, ter a liberdade de conversar abertamente sobre o jogo ajuda o grupo a se divertir mais e entender melhor o que cada um espera do jogo.

André Cruz disse...

Por isso eu acho sensacional a proposta da ficha-tema do RPG ESte Corpo Mortal. Antes do início do jogo os jogadores escrevem toda sua expectativa da campanha, que tipo de cenário e tom usarão nas aventuras, o que vale e o que não vale como regras, etc. Tudo isso fica documentado e quando alguém de fora quiser entrar na mesa é só mostrar aquele documento para que ele leia. Dessa forma o novo jogador sabe o que ele irá encontrar na nova mesa que ele irá participar. Ele pode sugerir mudanças, mas todos deverão concordar.

Anônimo disse...

Concordo 100%.

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